“Minha mãe recebeu o diagnóstico de Paralisia Cerebral, com um laudo muito técnico, vindo de uma linguagem específica da medicina. Ela saiu do consultório, foi a uma livraria e comprou um livro para entender tais termos, e deixou para reler o diagnóstico quando estivesse junto a meu Pai.

Quando ela começou a ler com o meu Pai, ela viu a palavra IRREVERSÍVEL. Isso fez com que o mundo de ambos desabasse, porque até aquele momento, se imaginava que seria algo que iríamos tratar por um período, e depois eu seria curado.

Do Luto à luta

Como costumo dizer em minhas palestras, meus pais saíram do LUTO e foram à LUTA. Reprogramaram toda a vida deles e foram ver o que seria possível fazer, nas condições que eles tinham para que eu pudesse melhorar. Ai começou a saga da minha mãe, que em média ia a cada 45 dias para Brasília, que fica a 650 km de Barreiras, para que eu pudesse fazer meus tratamentos.

O que tínhamos aqui em Barreiras na época era muito pouco, se tinha uma fisioterapeuta, que trabalhava com seu marido na zona rural, e vinha para a cidade aos finais de semana. Era bem menos do que eu necessitava, então minha mãe começou a fazer exercícios diários em mim, com sessões bem longas, que duravam mais de horas.

Muito ela fez com o que aprendia com o dia a dia com os profissionais que me tratavam, e algumas coisas, com uma incrível intuição materna. Foi então que aos 7 anos, depois de intervenções cirúrgicas, muita fisioterapia e dedicação dos pais, comecei a dar meus primeiros passos.

Tive uma infância incrível, mas na adolescência comecei a ter problemas comigo mesmo, não me amava e não me aceitava.

Via meus amigos com namoradinhas, e não me sentia capaz de conseguir aquilo, então eu me considerava derrotado antes mesmo de começar qualquer luta. Com todo esse desgosto pela vida, abandonei minhas fisioterapias, e todo meu tratamento.

Fui ao fundo do poço em 6 meses, me vi perdendo a maior alegria da minha vida, que foi ter começado a andar, por desleixo.

Fiquei de cama por 3 dias, mal levantava para tomar banho, com encurtamento muscular e perda de  força, vi que aquele estilo de vida ia me levar à depressão e ia me fazer ficar numa cama. Então reagi, foi aí que o esporte teve papel fundamental na minha vida: comecei academia, caminhadas e retomei a fisioterapia.

Depois de um tempo, me deram uma idéia bem louca de transformar as caminhadas em corridas, e eu aceitei.

Depois comecei a correr provas de rua de 5km. Até que em 2014, resolvi participar da Nigth Run, etapa de Brasília. Mas os 5km eu já fazia, então decidi tentar os 10km. Fiz a prova em 1 hora e 28 min, na época, aquilo era o máximo que eu era capaz.

Triathlon

Depois de pegar muita experiência como corredor, trabalhando em todos os aspectos minha consciência corporal, em Agosto de 2016, me desafiei, e quis começar a treinar para fazer um Triathlon.

Então, fui em busca de profissionais para me ajudar nesse projeto. Eu já tinha tentado nadar por diversas vezes, sem nenhum êxito.

Meu planejamento inicial era de fazer uma prova em Setembro de 2017, mas com o andamento muito positivo dos treinos e um convite especial da galera do Challenge Cerrado, decidi antecipar um pouquinho esse planejamento.

No último sábado, dia 08 de abril de 2017, fiz um simulado junto com o Filipe Aragão e o pessoal da TIME. Meu maior medo era a natação, apesar dos treinos na piscina estarem indo conforme planejado, nunca tinha nadado em águas abertas, seja Lago, Rio ou Mar.

Nos primeiros 15 metros de natação, quase me afoguei, a adrenalina veio a mil, olhava para baixo e não via nada, e o desconhecido fez com que eu momentaneamente me assustasse.

Me escorei no caiaque, conversei com meu treinador, Thiago e com o Filipe, ai eles me tranquilizaram e disseram que era só fazer o que vinha fazendo nos treinamentos.

Ai consegui encaixar o ritmo com a respiração, e finalmente estava nadando no lago! Achei incrível a experiência, tanto pelo triathlon, quanto pelas pessoas que ele me proporcionou conhecer, é uma galera que incentiva e motiva, uma atmosfera incrível.

O simulado saiu conforme planejamos, fiz basicamente o Triathlon Short, e terminamos em 3 horas e 20 min. Acredito que dê para reduzir esse tempo na prova, levando em conta que as vias estarão fechadas, além da adrenalina que essas provas nos proporcionam.

Escolhi o triathlon por que acho um desafio imenso, e essa harmonia e equilíbrio que o esporte exige, faz com que transcenda para nossa vida pessoal também.

Digo que essa modalidade me tornou não só um atleta mais forte, mas evolui como pessoa em um todo.  Não achei nenhum parâmetro para mim nessa modalidade, não vi nada registrado em nenhuma mídia, de alguém com a minha deficiência (Paralisia Cerebral Espástica) afetando três membros, sendo meu único membro não comprometido o braço direito.

Comecei esse projeto do zero, só sabia correr, não tinha muitos recursos, então busquei alguns parceiros, e ainda estou buscando, e se me perguntarem qual meu limite, sempre respondo que não sei, mas eu estou sempre buscando saber qual é.

A ideia ainda é fazer um Olímpico. Talvez em 2018, não tenho tanta pressa, por que sei o caminho que devo seguir, e sei que vou conseguir isso!

Sou graduado em duas faculdades, Direito e Educação Física, conclui uma pós- graduação recentemente e trabalho com eventos esportivos. Sou palestrante motivacional, com foco em desenvolvimento humano, e meu maior objetivo é motivar e transformar positivamente a vida das pessoas através da minha superação.”

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